quinta-feira, 8 de setembro de 2016

白帯

A cada exame recebe-se novamente a faixa branca



Curiosamente, receber a faixa laranja após prestar exame não me trouxe a alegria esperada, inclusive para surpresa dos meus entes queridos que acompanham minha trajetória no Karatê-Dô.

Apesar de vir treinando bastante nas semanas antecedentes, após ter passado um mês fora do dojô por motivos de trabalho e outras ocupações a que me dedico, meu exame não foi como eu mesmo esperava. Apesar de já não ser um jovem rapaz, confesso que ainda adentrei a área de exame me cobrando perfeição na execução de kihon e kata, como se não fosse um praticante de artes marciais desde criança.

Me surpreendeu que, mesmo sendo um cara já bem entrado nos 30 anos, profissional habituado a compromissos difíceis e que normalmente envolvem embates pessoais, jogos de ego, e ainda mais habituado a atividades que envolvem falar e apresentar arte em público, eu estava nervoso ali, justo no lugar onde me sentia mais livre de pressões e me sentia mais engrandecido a cada novo passo aprendido, tendo faixas-pretas queridos e experientes, verdadeiros amigos, como examinadores.

Foi um exame mais difícil do que o que prestei para receber a faixa marrom no Judô. Quando terminei o kihon estava tenso, e para minha própria surpresa, ofegante e sem fôlego. Observei que estava prendendo a respiração ao me movimentar vigorosamente, com a musculatura retesada; isso, ao invés de estar, como nos treinos, deixando fluir cada movimento, e permitindo que a mente relaxasse e entrasse em estado de contemplação.

Meus treinos de karatê, para mim, são um misto de meditação zazen, sessão de psicoterapia, yoga e treino funcional.  "Quem precisa de pilates ou terapia?" Costumo pensar ao chegar e ao sair do dojô...  

É a arte que mais me deixou consciente de como eu posso atingir um nível de relaxamento e paz interior desconhecidos por mim até pouco tempo atrás.

Após a graduação, que eu consegui pelo desempenho geral, o sensei veio conversar comigo. "Onde estava sua mente?" Perguntou ele. "Vejo-o realizar essas técnicas sem dificuldade todas as noites aqui na academia, e tenho visto seu esforço e dedicação, mas hoje o vi muito travado."

Eu respondi que realmente, as semanas anteriores não tinham sido leves para mim, eu estava com muitas atribuições no escritório e nas minhas atividades cotidianas, e minha mente não estava suficientemente tranquila, mas que sabia que o treino e o caminho eram mais importantes do que o objetivo, do que simplesmente focar os esforços na graduação em si.

"A vida é agora, meu filho. Você deveria, ao dedicar-se ao karatê, procurar se livrar de tudo o 
mais que o preocupa naquele momento, e levar isso para tudo o que fizer", disse ele.

O ontem já passou e o amanhã não sabemos se veremos. 

A graduação veio, mas mais ainda do que quando recebi as faixas anteriores até aqui, me veio a consciência de que a simbologia das faixas coloridas de graduação traz à memória a faixa branca que vai sendo manchada e tisnada pelo pó do dojô, pelo manuseio constante e, sobretudo, pelo suor do aprendiz, até ganhar matizes cada vez mais escuros e se tornar negra; porém sempre conservando, no interior de suas fibras, o branco original, que se revela novamente nos desgastes da faixa preta.

Humildade é a principal virtude do artista marcial, mas não da forma como normalmente é compreendida, ou é apenas mais um clichê. Humildade deve ser tida, antes de mais nada, para consigo próprio.

A busca da serenidade e da felicidade interior deve ser mais importante do que os objetivos em si, até porque feliz e sereno consegue-se melhores resultados, seja no dojô, seja no trabalho ou na vida pessoal.

Lição aprimorada.

Osu